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BUSAN
5 de novembro de 2023, 17h
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Café Oporto 27, 주소 부산 동구 망양로 481
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Após os 40 episódios da primeira temporada, esta segunda temporada tem um genérico original com autoria e interpretação de Sónia Tavares e, como habitualmente, a sonoplastia de Paulo Castanheiro.
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Exatamente 20 anos depois da sua primeira edição, Antídoto, um dos livros icónicos de José Luís Peixoto, escrito a partir das mesmas ideias que deram origem a Antidote, o álbum de Moonspell, regressa às livrarias.
Escrito a partir das mesmas ideias que deram origem a Antidote, o álbum de Moonspell, este livro ganha agora uma nova vida numa edição especial comemorativa, com fotografias de Maria Peixoto Martins e capa dura.
Disponível nas livrarias a 28 de setembro.
Para informações sobre exemplares autografados, escrever para livrosportanto@gmail.com
(Publicado na revista Sábado na edição de 25 de março de 2023.)
O LEGADO IMATERIAL DE RUI NABEIRO
Houve um momento destes dias em que, sozinho, fui ouvir um pouco das conversas que tivemos, ainda estão nas gravações do meu telemóvel. Ao escutar a cadência da sua voz e, também, o espaço gravado que envolve esse som, foi como se, de repente, estivesse outra vez no escritório de Rui Nabeiro, como se estivéssemos ainda a conversar. Há um tempo que se mantém ali, suspenso.
Quase sempre, essas gravações começam a meio da conversa: “O que eu possa dizer não lhe adianta nada, o que eu possa apreciar adianta-me a mim.” Nesse momento, falávamos sobre o livro que eu estava a escrever sobre a sua vida. Com estas palavras, Rui Nabeiro estava a esquivar-se aos meus pedidos de opinião. Na altura, como agora, tenho a certeza de que teria aprendido bastante com essas considerações, mas também não tenho dúvidas de que aprendi com os seus silêncios ou, muitas vezes, com o que disse indiretamente.
Esse livro foi publicado em 2021. Trata-se de um romance biográfico, a que chamei Almoço de Domingo. Ou seja, esse romance foi escrito a partir das conversas que tive com Rui Nabeiro sobre a sua vida, assim como de mais algumas fontes. Desde então, em alguns momentos, cruzei-me com pessoas que demonstraram dificuldades em perceber o suposto hibridismo de um romance biográfico. No entanto, assim que expliquei a minha intenção a Rui Nabeiro, quando ainda não estava uma única palavra escrita, ele entendeu logo do que se tratava.
Após a publicação do livro, as suas opiniões acabaram por chegar, ouvi-as na rádio, li-as em declarações que deu à imprensa. Ao vivo, tive a sua humildade e o seu olhar a comunicar-me uma mensagem que creio ter entendido, mas que escapa às palavras. Muitas vezes, Rui Nabeiro era assim. Quando tínhamos a sorte de receber um daqueles sorrisos radiosos, não sabíamos encontrar palavras para exprimir o privilégio que nos tocava. Apesar de também existir um certo pudor, Rui Nabeiro era um homem que não tinha medo das emoções. Ao falar da mãe, dizia quase sempre “a minha mãezinha”. Ao falar do pai, demonstrava sempre a grande mágoa de o ter perdido tão cedo. Esse carinho era absoluto e muito claro em relação a todos os elementos da sua família, tanto os de agora, filhos, netos, bisnetos, como os de antes, pais, irmãs e irmão. No que toca à sua Alice, companheira de sete décadas, havia um amor luminoso, sempre presente, um amor tocante para todos os que tiveram oportunidade de o testemunhar, como me aconteceu a mim.
Acredito que, em grande medida, é devido à força de todo este afeto que Rui Nabeiro se distinguiu, que ganhou a consideração generalizada do povo e que pertence à memória de tantos. Foi um empresário excepcional, inovador, visionário, que construiu uma enorme marca a partir do zero, que dinamizou a economia de toda uma região. Nada disso é pouco e não deve ser minimizado, mas a grande raiz que segura esse tronco e esses ramos são os valores que preservou desde sempre, de que nunca abdicou.
Recordo o prazer que lhe dava contar alguns episódios acerca das ofertas que multinacionais fizeram pela sua empresa. Ria ao narrar a preocupação da sua Alice, que lhe perguntava: “se sabes de antemão que não vais aceitar, porque é que não lhes dizes logo?” Mas Rui Nabeiro sabia que não era assim tão simples, que tinha de deixá-los falar e, também, referiu várias vezes que tinha gosto em ouvir aqueles números tão altos e, ao mesmo tempo, lembrar-se dos baixos valores com que começou. Recordo igualmente o orgulho com que contava ousadias que teve e que fizeram muita diferença no seu percurso empresarial, como no caso da sua ida para Angola na década de setenta, num momento em que a grande maioria dos portugueses estava a abandonar o país, e de como aí conseguiu montar uma fábrica, formar trabalhadores e, assim, receber café angolano em Portugal.
A viagem que eu fazia em direção a Campo Maior era muito diferente da que fazia no regresso. Para lá, ia sempre na expectativa. Para cá, vinha sempre assoberbado com tudo o que tinha ouvido. Essas conversas eram como um caleidoscópio. Em março de 2020, fomos interrompidos pela pandemia. No espírito dessa época, tentámos conversar através da internet, Rui Nabeiro na sua casa, eu na minha, mas não funcionou. Faltava alma a essa comunicação e, nestas partilhas, a alma era tudo. Assim, quando pudemos, voltámos a encontrar-nos ao vivo, com os devidos cuidados.
Hoje, parece-me que a pandemia marcou bastante as conversas que tivemos. Rui Nabeiro sentia-se privado de uma liberdade que lhe era essencial e, também, sentia-se fragilizado. Esse foi um período de apreensão para os mais velhos, e Rui Nabeiro tinha acabado de cumprir 89 anos. Assim, talvez temesse um pouco por si próprio, mas principalmente temia pela sua Alice. Provavelmente, esse tempo potenciou os muitos momentos de emoção que partilhámos nesses encontros. Como aconteceu, por exemplo, ao falar da doença da irmã Clarisse, do esforço que colocou em levá-la a Londres, em proporcionar-lhe os melhores cuidados médicos possíveis na época, mas, mesmo assim, não conseguiu salvá-la.
Há pessoas que passaram dificuldades, que as superaram e que, depois, se envergonham da sua história, escondem esses episódios, como se nunca tivessem acontecido. Rui Nabeiro nunca fez parte dessas pessoas. Rui Nabeiro sabia que não podia separar a sua identidade da sua história. Era um homem que estimava a palavra escrita, sabia que existe um legado imaterial, e que as palavras são uma forma de tentar captá-lo. Talvez por isso, tenha tido tanta paciência comigo. Ainda bem que foi possível escrever Almoço de Domingo. Com alguma frequência, pediam a Rui Nabeiro que autografasse exemplares do livro que escrevi sobre ele. Sei que acedia sempre a esses pedidos, o que me enche de orgulho.
Tenho esperança que essas páginas consigam sugerir uma gota do que foi a vida de Rui Nabeiro, do muito que ainda é. Aproveito esta palavras escritas, a força da sua consistência, para deixar aqui expressa a grande pena que tenho pelo seu desaparecimento, deixo a minha solidariedade para com a família e para com aqueles, tantos, que privaram com ele e que, hoje, lamentam o fim de uma era.
Por José Luís Peixoto, revista Sábado (25 de março de 2023)
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